Sunday, June 05, 2005

 

The 25th hour (título velho para ideias velhas para caminhos novos)

‘’O que estás aqui a fazer?’’

Não sei. Ou melhor, tenho a arrogância de dar palpites. Sei que já cá estive muitas vezes, dizendo a mim próprio que estava noutro sítio qualquer. E claro, a acreditar nisso. Porque era conveniente. Porque há alturas em que não é suposto questionarmo-nos a nós próprios. Mesmo quando nos estamos a enganar, com promessas vazias e metas inatingíveis.
Sei que da última vez que cá estive prometi a mim mesmo que não ia voltar. Mas se isso é um argumento, também o é o facto dessa promessa ter sido quebrada vezes sem conta.
Falha de carácter? Ciclos viciosos? Sempre que se levanta esta perspectiva quase tétrica, há alguma coisa que se encolhe na consciência. Que se põe em posição fetal. De duas maneiras diferentes, devido à explicação alternativa apresentada.
Carácter em formação. Ah, pois. Não somos fracos, o que acontece é que precisamos de errar, para acertar. Precisamos de experimentar o errado, para distinguirmos o certo… Essa é a maior mentira de todas. Como qualquer mentira que existe para legitimar um estado de espírito envergonhado. Escrava de uma racionalização, não sabe que mais tarde ou mais cedo, vai ser desmascarada e linchada, numa operação de cosmética de suposta moratória com vista ao desenvolvimento pessoal. Mas a racionalização persiste. No meio de enganos, cortinas de fumo, com cunhas e favores subtis do subconsciente, consegue fugir no meio dos intervalos da chuva, para voltar a parasitar quando a poeira tiver assentado.

Ah, chega de parvoeira…

Sinto uma mão no ombro que não é outra senão a minha. Alguma compreensão derivada do facto reconhecido que a corrosão de estado de espírito que esta reflexão provoca, periga o melhoramento da situação real. Ai, ai…

Tenho que ir embora… O mundo real está a chamar. Aliás, já chamou. Muitas vezes. Ouvi-o chamar-me pelo meu primeiro e segundo nome, numa formalidade normalmente reservada às mães zangadas. Ouvi-o gritar vezes sem conta que era a última vez que chamava, parando por um momento, não sei se para a ameaça se infiltrar no espírito, ou simplesmente para ganhar fôlego. A verdade é que não deixa de ser uma das poucas certezas com que podemos contar. O mundo real vai chamar-nos outra vez. Até morrermos, nunca falha. Vai estar lá sempre. Desde que exista uma réstia de esperança para conduzir a sua voz, ele sabe que é nele que nós pertencemos.
E para voltarmos temos que acreditar que podemos fazer alguma coisa diferente. Temos que pegar na nossa auto estima insuflável, e colar-lhe mais um remendo. Depois temos que soprar. Mais uma vez. Temos que pegar nos sonhos que julgamos partidos e arranjar maneira de os bocados encaixarem com UHU. Temos que acreditar. Porque não conhecemos outra maneira. Independentemente das vezes que falhamos. E mesmo que a antiga crença já não se consiga instalar, temos que lhe queimar as pontas com o auto-fágico baixar de expectativas e dar o que acreditamos ter de melhor. Ao mesmo tempo que corroemos os estados de espírito envergonhados.

Por isso, grito com raiva de dentes e punhos cerrados, que não hei de voltar cá. ggrrrrrrrrrrrrrrr

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