Tuesday, May 17, 2005

 

Não há pessoas más no mundo (as únicas pessoas más estão nos filmes do steven seagal)

É verdade. Não há pessoas más na terra. Toda a gente pensa sempre que o que está a fazer é correcto (ou quase correcto). Peço ao leitor (que não existe), que faça o seguinte exercício… Pense em situações que viveu em que tomou posições que influenciaram outras pessoas. Vai ver, e isto é inevitável, que todos os actos que praticou, bons ou menos bons, foram inteiramente justificados, por este ou aquele motivo, e como tal, dentro da moral e da ética.

Recue no tempo. Aquele puto estúpido que lhe roubou o lanche na primária estava mesmo a pedir para você lhe partir os dentes e lhe rasgar as cuecas. Aprendeu a defender o que era seu, com meios que adquiriu num ambiente familiar em que o seu pai ‘’disciplinava’’ a sua mãe como só os homens bons do antigamente faziam. Aquele palhaço mais qualificado que você, a quem o leitor passou à frente no concurso para o emprego que desempenha, não era do mesmo partido que o seu patrão. Como é que se esperavam que ele conseguisse manter o bom ambiente de trabalho que o leitor mantém? O que aconteceu parece mal, mas tem um bom fundo. Aqueles senhores que querem fazer uma urbanização num parque natural protegido, e que por isso lhe calçaram um bonito par de luvas de veludo verde, estão a pensar na qualidade de vida das pessoas de classe média. Estão a pensar em crianças a brincar pelos bosques, e em pessoas de idade que, com os ares da mata, possam ficar definitivamente livres do seu reumatismo. Até aquele miúdo que na semana passada lhe passou à frente na fila da fruta, e que você escavacou à lambada, não percebeu que há regras. E as regras são para se cumprir, porra. É tudo uma pouca-vergonha. Por isso é que este país está como está.

Tudo o que o leitor faz é de boa fé. Sempre a pensar nos outros que podiam estar na sua posição, a ser injustiçados de maneira vil e ignóbil.
Assim, ou o leitor é o Messias, e daqui a uns anos vai morrer para salvar a massa associativa do Benfica (pecadores), ou então é uma pessoa perfeitamente normal que racionaliza que nem uma vaca louca, agarra-se aos próprios valores decadentes que nem o caruncho ao discurso ‘moderno‘ do Sócrates, sem se preocupar com premissas, definições ou consequências. O leitor vive la vida loca. Os otários que dizem que o leitor é o rei do deboche, trafica droga como quem come iogurtes adágio, trata os seus subalternos abaixo de merda de cão e é um cabrão que vendia a própria mãe se com isso ganhasse nem que fosse um cromo do bolicao, não percebem as grandes pressões que se abatem na sua vida. O seu stress. A sua família chata. A sua infância traumática. O grande trabalho em termos de flexibilidade que tem de efectuar, para conseguir lamber o próprio rabo, numa auto-congratulação larilas e permanente.

Tudo atenuantes, que mescladas com cinismo mole, com inércia plácida e com conformismo alarve, mais que justificam as suas acções. O que é que importa se os fundos da união europeia fossem para construir infra-estruturas, desenvolver a economia e criar empregos, em vez de serem para jipes, vivendas com piscina e telemóveis com toques polifónicos, máquina fotográfica, bluethooth, e que até lhe limpam o cu? O que é que importa se todos os grandes otários que votaram em si pensam que você dedicou mais de dois segundos da sua vida a pensar em resolver de facto uma coisa que diga respeito à maioria das suas humildes almas? O que importa se há pessoas que metem mais pó branco na veia do que uma receita de doçaria do manel luís goucha, e você anda a vender essa maravilhosa farinha? O que é que importa se os seus filhos só o viram três vezes, se você lhes comprou uma playstation5, um telemóvel mágico, uma mota de água, um par de cornos e um andar na expo? Afinal, se o leitor não fizesse, outro qualquer fazia isso. E assim até é o leitor que ganha uns trocos de maneira que outros atadinhos chamariam de imoral, que depois gasta no totoloto que até é da santa casa. O leitor é um santo. Pelo menos para o leitor.

Ah sim? O leitor diz que se nós acreditamos subconscientemente que tudo o que fazemos está correcto, então como planeio eu justificar a vergonha e o arrependimento? Estou a perder o respeito pelo leitor. O leitor devia era estar calado. O leitor é um daqueles lerdos condescendentes que só vêem as questões de um ponto de vista. O leitor é mais ceguinho que o Paulo Paraty (ou que os sportinguistas que viram uma falta num lance em que eu vi um distinto e fofinho pato. Daqueles dos porta-chaves das gajas).
O leitor é um palhaço e devia era ser atropelado por uma betoneira.
A vergonha e o arrependimento são formas que gastam muita energia para fazer um bypass a qualquer aprendizagem crítica com os próprios erros. E mesmo assim, só existem quando há comportamentos aberrantes aos padrões das pessoas envolvidas. (Se pensarmos que os padrões desta malta são mais laxos que o tecido conjuntivo do cordão umbilical, o conceito de ‘’comportamentos aberrantes’’ toma proporções verdadeiramente assustadoras.)

Assim, as únicas pessoas más, estão nos filmes do steven seagal (As dos filmes do van damme, do chuck norris e do swartwzengger (ou lá o q é), são muito mariquinhas para serem más), e claro pessoas que tenham blogs em que escrevam opiniões completamente tresloucadas, façam frases com 8000 palavras, e tenham montes de sono. Até amanhã, e se virem um leitor dêem-lhe um chuto nos tomates.

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