Wednesday, June 14, 2006

 

Another Late Night

Excuse me please, one more drink
Could you make it strong?
'Cause I don't need to think
She broke my heart
My Grace is Gone
Another drink and I'll be gone
One more drink and I'll move on

Dave Matthews Band - Grace is Gone

 

Momentary lapse of reason

Conseguia sentir os sons curtos, graves e partidos como um batimento cardíaco, dos próprios saltos altos no mármore da praça central, deixando-se embalar num som qua sabia não ser audível, asfixiado pela multidão. Quando chegou ao sítio, fechou os olhos e deixou ecoar as passadas no vazio que sentia no fundo das fronteiras onde tinha concebido o seu eu artificial. A calma dos indiferentes ao próprio destino possuia-a, decorrente das suas expectativas de conforto estarem reduzidas ao abraço das suas pálpebras aos seus olhos, do bloqueio recalcante de tudo o resto, que não fosse aquele nada que lhe soprava na mente. A visão do síto descontextualizado, crivava-a de sensações desconexas ininterpretáveis, de ondas de ansiedade controláveis que abanavam as barreiras dos seus mecanismos de defesa. Sentiu a luta dentro de si, facilmente ganha_ ou perdida_ quando o cenário mudou. Apercebeu-se do barulho contínuo, irregular e envolvente da multidão que a cercava, esbatido como uma nuvem baixa, longínguo como o mar na falésia, impenetrável como uma conversa em língua estrangeira. Sabia que não havia nada que pudesse fazer, nenhum tratamento eficaz, nenhum controlo de danos, nenhuma medida paliativa. Não podia esquivar-se aquela imposição férrea e incontornável, assim como não podia voltar atrás no tempo e afastar-se da estrada. Ela já tinha atravessado aquela estrada, no centro daquela praça. Sabia-o tão bem, como sabia desiquilibradas as suas noções de importância. Como tudo perdera o sentido, a palpabilidade, o sabor. Sabia que depois os outros se perguntariam porquê. Se fora premeditado. Se fora um acidente. A verdade é que não fora nada. Já tinha sido. Tudo o que se passaria já se tinha passado, independentemente do desfecho desta simples cena.
''A morte é a morada dos nossos fantasmas e das nossas fraquezas,de tudo aquilo que acreditamos que nos pode destruir. Pelo menos enquanto somos jovens. Depois acabamos por fazer as pazes com ela, porque ela não vem, os nossos fantasmas não se vão embora, e os nossos medos assaltam-nos todos os dias. Tudo para um dia...''
Sentiu a pancada brutal no flanco, o mundo entrou em looping de montanha russa, desfocado e colorido, e sem que se apercebesse de mais nada, o asfalto quente recebeu-a dolorosamente. Conseguia ver o céu.

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