corrosive writing

Hoje começa a festa do Avante. E pela primeira vez, desde que sei que ela existe, não vou lá. Não vou entrar no recinto de arafat ao pescoço e convicções no coração. Não vou ver t-shirts do che, nem regatear preços de coisas que sei que não vou comprar. Não vou perder horas a escolher livros e cd's, sabendo de antemão os que quero. Não vou tirar imperiais e sangrias, nem fazer sandes em bares cheios de gente que conheço. Não vou ouvir histórias de viciados em LSD quixotestos, que pensam que as árvores são dragões. Não vou discutir o marxismo leninismo em debates acalorados, à volta de uma mesa metálica, em cadeiras cujas pernas teimam em cada uma escolher o seu próprio tamanho. Não vou apregoar o programa da festa a plenos pulmões. Não vou circular na festa com mais camaradas a tentar dar a volta aos indecisos para se filiarem na JCP. Não vou rir de histórias antigas, com os meus amigos de Santo André. Não vou cantar as músicas dos xutos até ficar rouco, nem saltar que nem um doido durante os concertos. Nenhuma miúda se vai roçar em mim 'acidentalmente' durante as baladas. Não vou ver as estrelas, nem discutir com o responsável da tenda de astronomia, sobre pormenores irrelevantes. Não vou acabar a noite ao pé do lago a cantar ao som duma viola a cair aos bocados.

Não vou dançar a carvalhesa... Nem sequer vou ouvir a carvalhesa. Todas as pessoas no mundo deviam dançar a carvalhesa em frente ao palco 25 de Abril pelo menos uma vez na vida, no segundo dia da festa.

Tou a tentar não pensar nisso...

sigh