Friday, May 13, 2005

 

Não te curto (sei que não queres saber...)

Hoje sinto-me mesmo mal. Estou com raiva ao mundo. Rrrrr. Morram todos. Quero ser infantil e dizer coisas chocantes para me afirmar. Tipo adolescente estúpido. Sim, sim, chama-se regressão, e é um mecanismo de defesa do ego. O meu precisa mesmo muito de se defender.

Tenho que começar por criticar veementemente a maneira como as pessoas começam este tipo de textos. Metade deles escreve sobre eles próprios. Sobre as suas inseguranças ridículas, sobre o que comeram ontem ao jantar, ou então para espetarem com as suas fotos hediondas, onde toda a gente possa ver. ‘’este é o meu cão’’…’’este é o meu quarto’’… Who gives a fuck…? Há ainda palhaços que parecem adolescentes tímidos a escrever dedicatórias: ‘’epa eu não tenho jeito para fazer blogs, mas como a minha vida é uma merda, resolvi partilhar com o mundo como me sinto bem a ter pena de mim próprio… snif, snif…’’ Os que têm a mania que são intelectuais dão nomes pomposos ás suas tortuosas personalidades disfuncionais. À estupidez chamam teimosia, a parvoíce galopante é a distracção e a total falta de coragem, chamam-lhe racionalidade. Ah, e apanhei mesmo um tipo que escrevia um texto maior que este sobre a sua nova máquina de lavar pratos. Realmente há malta que devia levar chutos no cu até sangrar.
Ahhhh. Pronto. Isto é terapêutico. Ainda bem que é anónimo. Agora que me livrei do ácido todo que tinha cá dentro, já posso dizer que até existem blogs engraçados. Há malta com opiniões que vale a pena ler. E mesmo as pessoas que falam de si próprias têm motivos fortes para o fazer… Aposto que ainda vou cair nessa tentação também. Mas a maneira como começam os textos deixa a desejar.

Porque é que não fazem como os escritores a sério? Escritor que se preze começa o seu livro com uma referência completamente desnecessária, desajustada e entediante acerca das condições meteorológicas, do dia em que a sua história começa. Talvez seja uma maneira de baixar as expectativas do leitor. Um livro de jeito começa com ‘’ Era uma bela manhã de fim de Novembro…’’, como ‘’o nome da rosa’’, ou ‘’Brilha o céu, tarda a noite, o tempo é lerdo, a vida baça, o gesto flácido.’’, como o ‘’deus passeando pela brisa da tarde.’’. Ou como o eterno ‘’até amanhã camaradas’’, que começa com ‘’Súbitas rajadas de vento bufaram do Sul’’. Quando há qualquer coisa a bufar do sul, sabemos que estamos perante uma grande obra. Porra, não estavam à espera que o ‘’guerra e paz’’ começasse com ’’epa tava um grizo do caraças, um gajo não podia pôr o nariz de fora, que o ranho gelava…e agora vou descrever os tansos que vos vão acompanhar durante um porradão de páginas em que se vão arrepender de ter nascido, antes de desistirem e irem procurar as páginas amarelas como nova leitura de cabeceira.’’
Claro que isto cria um problema às pessoas que escrevem livros sobre meteorologia. É revoltante para qualquer pessoa, e não seria de espantar que os meteorologistas comecem a escolher descrições queirosianas, ou alegorias subtis sob a forma de versos alexandrinos, para iniciar os seus livros.

Há até lerdos com a mania que são originais, que para começarem a escrever, têm a arrogância de criticar todos os outros tansos que já tentaram fazer alguma coisa no domínio em questão. Esses são dos piores. São oportunistas, sanguessugas infiéis e desprezam a moral e o bom senso das chamadas regras não escritas. Porque elas existem. Só que são um bocado vagas, subjectivas, ás vezes ligadas por fracos apêndices aos mais conceitos mais abrangentes que são as boas maneiras, a etiqueta e essas tretas todas… Quando descobri isto, há uns anos atrás, o meu sonho megalómano tornou-se criar uma sociedade super snob, de tias e tios, malta com vestidos caros e perfumes exóticos, em que a pressão de pares fosse esmagadora da individualidade de cada um, em que o que os outros pensam de nós torna-se mais importante do que aquilo que nós somos. Uma espécie de ditadura, em que cada um fosse o seu próprio censor, com medo do que as vizinhas pudessem dizer dele, quando se encontrassem no cabeleireiro. Depois passaria mensagens subliminares nas revistas sociais (que seriam de leitura obrigatória do primeiro ao décimo segundo ano), e imporia a regra não escrita mais importante de todas: ‘’Dar dinheiro a mim’’. Desisti do meu sonho quando começou a transmissão da quinta das celebridades.

Deixem-me só cair numa generalidade pseudo-intelectual, já gasta e regasta ao quadrado: odeio a quinta das celebridades. Também odeio a manuela moura guedes e os morangos com açúcar. Ahhhh… dizer isto é saudável. Claro que toda a gente que conheço também odeia. Aliás tive dificuldade em encontrar pessoas que dissessem gostar genuinamente destes programas. Assim, ou vivemos num país de mentirosos, ou a TVI tem centenas de milhar de empregados, e obriga-os a assistir aos seus execráveis programas. Senão, como justificar as suas espantásticas audiências?
Claro que para criticar temos que saber do que falamos. Um dia, há muitos anos, conheci uma velhota que via o Big Show SIC. Dizia que o João Baião era um chulo, que a seminudez das bailarinas uma vergonha, que a linguagem era ‘porca’. Dizia também que os fatos e vestidos eram feios, e expirava rapidamente, de indignação, cada vez que havia quaisquer referências de cariz sexual. Nevertheless, todos os sábados à tarde, lá estava ela vidrada na TV, a criticar, a rebaixar, a defender a moral e os bons costumes.
Assim, se você que lê isto vê programas baseados no menor denominador comum à tripa forra, enquanto os arrasa criticamente, e é firme na opinião de que ninguém os deveria ver, aqui vão umas digas para se sentir melhor consigo próprio:
1 – Olhe fixamente o monitor do PC.
2 – Agarre o monitor com as duas mãos, uma de cada lado do ecrã.
3 – Puxe com força, ao mesmo tempo que se desloca para a frente, até a sua cabeça entrar em contacto com o vidro.
4 – Repita os anteriores, mas agora com mais força, e mais convicção.
5 – Pare quando o vidro se partir, ou começar a sangrar.
6 – Ponha um penso e comece de novo.
(Para quem não percebeu bem, treine primeiro numa parede bem rija, antes de tentar no monitor).
Se você é uma criança facilmente impressionável, saiba que não precisa de pedir autorização aos seus pais para fazer isto. Como toda a gente sabe, o sofrimento forma o carácter. Os seus papas vão rejubilar pela sua iniciativa tão autodidacta.

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