Friday, November 11, 2005

 

Não quero saber, ou o equivalente adulto ao tempo em que os animais falavam

Há uma convergência nas linhas que definem o cubículo longínquo do horizonte apócrifo numa rua estreita e longa. Visão nocturna e deserta emoldurada por árvores persistentes e frondosas, e por candeeiros de luz amarela e mortiça, que têm a irrealidade difícil de memorizar dos sonhos matinais. Houve-se um silêncio leve, uma brisa indetectável que lambe os telhados e o rilhar grave dos pneus de um carro distante, que se aventura expectante nas esquinas dos bairros apertados e sepulcrais. Bairros cercados por muralhas com frestas que são ruas, e que escondem jardins ocultos, parques de estacionamento onde putos jogam á bola durante o dia, clubes de strip desconhecidos por todos, excepto pelos taxistas. Bairros com ruas cujo envolvimento transforma avenidas em becos e empurra os transeuntes contra as suas paredes de mármore enegrecido. Como se lhes desagradasse a simples passagem de alguém pelas ruas que os traçam, os parques que escondem e os quintais que disfarçam.

Há uma película de água cúmplice que facilita a relação entre a borracha dos ténis e a calçada, produto de uma chuva miudinha que lubrifica as arestas da paisagem urbana. A chuva é a sinovial das articulações gastas de lisboa. Sem ela os dias cinzentos eram artríticos, os prédios emperravam contra o ceú descolorado e as pessoas desviavam-se de água projectada por carros que pisam poças inexistentes(fui longe demais, nesta...). A chuva encosta as pessoas contra o abrigo das varandas onde se poderá acumular tranquilamente e cair sob a forma de grossos pingos gelados na cabeça dos incautos, dos empresários do passo estugado e cabelo oleoso, das senhoras que têm todo o tempo do mundo, dos miúdos que vêm da escola.

É com eles que me cruzo neste início de noite que venho da faculdade. Doem-me as pernas, e a indiferença metereologica deste dia não ajuda. O dia correu mal. Não fiz metade do que queria fazer, e recebi más notícias pelo ramal de acesso à super auto-estrada da informação que é o meu telemóvel. Estou cansado demais para correr e não me molhar... melhor, não me apetece não me molhar. Paro debaixo de um candeeiro e olho para cima numa redundante tentativa de constatar a causa óbvia de ter o cabelo encharcado e me pingar água pelas orelhas e pelo queixo. A chuva escorre desinteressadamente em frente à luz amarela revelando alternadamente as direcções que o vento lhe imprime. Como se fosse o candeeiro a sua fonte.

Abro os braços e corro rua acima pelo meio da estrada. Não quero saber.

Comments:
A chuva é a sinovial das articulações gastas de lisboa.

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